Ensaio sobre as Perspectivas Atuais da Educação: Novas Tecnologias e Conhecimento
Written by Adonai Estrela Medrado   
Monday, 30 June 2008 19:44

Sobre

Este trabalho apresentado foi apresentado em maio/2007 na Faculdade Zacarias de Goes (FAZAG).

Introdução

A educação, as novas tecnologias e o conhecimento têm sido alvo de atenção. Gadotti (2000) contribui com perspectivas da educação frente ao que ele denomina de “era da informação”, identificando e sugerindo caminhos como o educador poderia se adequar a esta nova realidade. Ele, como Tilly (2006), preocupa-se com a desigualdade do acesso ao conhecimento, com os novos excluídos: os que não têm acesso à informação. Esses não estariam inseridos naquilo que Bessa (2003) referencia como “nova economia”. Teriam suas possibilidades limitadas e ficariam distantes das oportunidades.

O objetivo deste ensaio é identificar onde se insere o educador neste processo: como, quando e porque fazer uso das novas tecnologias tanto como ferramenta de trabalho para construir suas aulas quanto como instrumento para o aluno.

É nossa opinião que não deve haver generalização de método. A tecnologia não é a solução para todos os problemas. Não é colocando o computador em uma escola, faculdade ou universidade que os problemas da exclusão desta “nova era” vão ser encerrados. Ao mesmo tempo, concordamos com Marcovitch (2002) quando ele destaca a importância da tecnologia da informação para o avanço e difusão do conhecimento, chegando a classificá-la com essencial.

Importância e Problemas da “era da informação” na Educação

Para Gadotti (2000), ao mesmo tempo em que a tecnologia tornou possível o surgimento da era da informação, ela gerou a perplexidade e a crise de paradigmas. Do papel e dos livros passa-se ao teclado, mouse e a Internet com as bibliotecas virtuais. Marcovitch (2002) fala nas possibilidades de se avançar cada vez mais na digitalização dos acervos bibliográficos e teses ficando a disposição.

Tem-se cada vez mais a disseminação da informação. Lara (2003) acredita que a disseminação torna pública a produção de conhecimento e envolve dois elementos básicos: o produtor e o usuário. Os resultados da informação disponibilizada são impossíveis de serem previstos ou enumerados. Em primeiro lugar, a informação pode não ser vista ou acessada pela simples falha na divulgação. Depois, não há como garantir que estas informações teriam “bom uso” pelo usuário. Como garantir a veracidade das informações do produtor?

A “era da informação” ainda gera uma sobrecarga de informação. Uma vez que, como o conceito de utilidade é algo bastante relativo, os produtores de informação produzem aquelas informações que acham úteis (LARA, 2003), cabe ao usuário saber selecionar aquilo que é útil para ele.

Além da utilidade da informação, tem-se a questão da qualidade da informação. Os sistemas educacionais poderiam alertar, instruir e interagir, evitando o processo de controle da mente citado por Gadotti (2000). O trabalho do educador seria ensinar a pensar criticamente.

Dado, Informação, Conhecimento e Novo Paradigma

Estamos diante de uma mudança de paradigma quando Gadotti (2000) fala em ensinar a pensar ao invés de desenvolver a memória. Silva e Aranha (2005) relatam que as mudanças de paradigmas geralmente são processos que provocam reações adversas como ansiedade, medo, rejeição e resistência. Concordamos com Marcovitch (2005) quando afirma que a cada dia surgem tecnologias “capazes de afetar profundamente a vida acadêmica”.

A mudança necessária do professor não vem de uma demanda somente do mundo acadêmico, mas também do mundo do trabalho, onde, para Castro (2005), passa-se a exigir o desenvolvimento no jovem das habilidades de análise, síntese, criatividade, raciocínio lógico, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem.

Gadotti (2005) fala sobre o paradigma holonômico, que talvez aponte para algo próximo do que se deseja atualmente, pretendendo alcançar a totalidade do sujeito, valorizando a sua iniciativa e sua criatividade, o micro, a complementaridade, a convergência e a complexidade.

Esta visão aponta para um professor que ensine o aluno a usar a informação, a transformá-la em conhecimento e dela fazer uso com responsabilidade para atingir seus objetivos. O professor ajudaria o aluno a atingir a posição de integrador, transformando os dados em informações e as informações em conhecimento.

Conhecimento, Poder e Exclusão

É realidade: a informação não está disponível para todos. Na busca pelo conhecimento, o professor tem papel fundamental, ajudando e acompanhando o aluno na tarefa de superar o desafio da disponibilidade da informação. Segundo Tilly (2006), os produtores de informação “de forma quase inevitável, reservam o conhecimento para vantagem própria e de seus financiadores [...] [este controle divide] de um lado os que têm direito a esse conhecimento e, de outro, os que carecem de tais direitos”.

O professor tem também o desafio de lidar com a grande massa de excluídos do que poderia ser chamado de direito à informação. Não se pode ver todos os benefícios das novas tecnologias sem ter acesso a elas. Por este motivo, Gadotti (2005) questiona se realmente estamos na “era do conhecimento”.

E se o próprio professor não tiver acesso às novas tecnologias? Este é um problema que precisa ser analisado com cuidado e solucionado.

Acesso à Informação em Todo Lugar

Os novos espaços do conhecimento, citados por Gadotti (2005), são realidade devido às novas tecnologias. Com o acesso à Internet, como às novas tecnologias, a informação pode ser acessada de qualquer computador “conectado”, criando-se a possibilidade da aprendizagem a distância.

Conseguindo o professor despertar as habilidades relevantes no aluno, é possível que este busque e obtenha aquilo que lhe é relevante em qualquer lugar com muito mais liberdade. Muitas instituições estão sendo provedoras deste ponto de acesso à tecnologia, ajudando os indivíduos a exercer o seu direito à informação. Gadotti (2005) é enfático na importância deste que ele considera um “direito fundamental, um direito primário, o primeiro de todos os direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos”.

A Relevância do Aluno e a Presença do Professor

Mas se a informação está em todo lugar, qual é a necessidade de se existir instituições de ensino com suas respectivas estruturas físicas? Qual a relevância do ensino presencial das universidades? Para Marcovitch (2002), a informática é um instrumento complementar, “a pesquisa, a experimentação e a aprendizagem continuam dependendo bastante da freqüência presencial, e é bom que assim ocorra. A vivência no campus favorece a construção de relacionamentos, valores, afirmação de identidade, experiências culturais”.

Nesta visão, a produção de conhecimento dependeria das relações interpessoais e da construção de repertório presencial e físico. Não seria isto uma perspectiva presa a um antigo paradigma ou da super-valorização das relações “reais”? É provável que este seja mais um obstáculo que o professor e os alunos devam superar. Cremos que é possível que no mundo virtual sejam estabelecidas as relações necessárias para a produção do conhecimento e construção identitária.

Passando do “Real para o Virtual”: Quando e Quanto?

Concordamos com Gadotti (2005), no sentido de que não há mais tempo próprio para aprendizagem no mundo das novas tecnologias. O tempo é hoje e sempre, e o espaço é aqui. A passagem do real para o virtual possui diversas vantagens. Enquanto um livro demora meses até estar pronto e disponível para a leitura nas livrarias e bibliotecas, a disponibilização na Internet é imediata. A publicação de uma pesquisa e seus resultados estão disponíveis cada vez mais rápido, fator bastante relevante em um mundo em rápida transformação. O conhecimento é a moeda da “era da informação”. Ter uma informação obsoleta traz desvantagens competitivas. Assim, a mudança do real para o virtual deve acontecer como algo natural, além de necessário.

Agora o conhecimento deve ser vendido? Gadotti (2005) acha que não, pois “é básico para a sobrevivência”. Ele acha que as informações devem ser disponibilizadas livremente. Vemos um problema nesta abordagem. A produção do conhecimento, na maioria das vezes, é algo custoso. Uma pesquisa tem custos; cremos ser necessário para o avanço e progresso do conhecimento que os produtores sejam beneficiados de alguma forma. Este é o fim básico da patente e dos direitos. Beneficiar o produtor de alguma forma funciona como um mecanismo para preservar a continua renovação e geração do conhecimento. Embora esta seja uma visão capitalista, o mundo moderno é capitalista e é neste contexto que se decide quanto vale determinado conhecimento.

Mas quanto vale o indivíduo que domina determinado conhecimento? Como saber se o indivíduo domina a área de conhecimento desejada?

Conhecimento Válido: A Importância do Certificado e Do Diploma

Em um mundo no qual o conhecimento está disponível àqueles com acesso às novas tecnologias, qual a importância das instituições certificadoras e do diploma universitário? Gadotti (2005) levanta uma questão ainda mais fundamental: haveria a necessidade de certificado ou diploma? Na nossa opinião, existe a necessidade de verificar se o indivíduo tem o domínio do conhecimento necessário para executar determinada atividade. E quem é apto para decidir sobre a validade da certificação? Para Gadotti (2005) não deve ser “nem o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito aprendente”.

O professor e a escola orientariam este aluno no processo de busca do seu conhecimento, daquilo que deseja aprender para dar um retorno à sociedade. A certificação e o diploma servem de ponto de checagem para verificação do sucesso. Neste contexto, o não certificado ou não diplomado não é sinônimo de não conhecedor, mas simplesmente o indivíduo que não passou por este ponto de checagem.

Professor: Consciência e Sensibilidade

Gadotti (2005) pergunta: “o que é ser professor hoje?”. Ele mesmo responde afirmando que “professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter consciência e sensibilidade” (grifo do autor). Coloca a importância do “desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade e iniciativa”.

Nesta linha, pensamos que os professores devem auxiliar no processo de transformar informação em conhecimento, devem ser facilitadores do processo de aprender. Professor não deve ter como objetivo formar escola ou tentar induzir o aluno a uma determinada forma de pensar que ele acredita ser correta. A formação é do aluno, e ele próprio é o responsável por ela. O professor meramente auxilia e ajuda na trilha, crescendo e se reformulando no processo.

Um bom professor tem a consciência do seu papel e da sua responsabilidade e tem a sensibilidade para conduzir o processo de forma que beneficie prioritariamente o aluno e a sociedade.

Visão do Aluno: A Avaliação

Vasconcellos e Oliveira (2006) relacionaram o professor e a boa prática avaliativa, destacam que a importância deste estudo está no “rumo a concepções inovadoras de ensino e avaliação que valorizem a formação, o crescimento e o amadurecimento dos alunos”.

O processo avaliativo tem dois grandes interessados: o aluno avaliado e a sociedade. O primeiro é interessado em saber seu aproveitamento segundo uma ótica de julgamento; já o interesse do segundo está na recepção de indivíduos preparados e com algo importante a ofertar. Ao ouvir o aluno, ouve-se um dos maiores interessados no processo avaliativo.

A conclusão do estudo mostra que a relação professor-aluno ultrapassa os limites da sala de aula e da aula em si. Na construção de uma boa avaliação o professor conta com seus valores e concepções além da experiência pessoal e profissional e de um permanente processo de auto-avaliação.

Considerações Finais

As novas tecnologias são instrumentos e meios para se conseguir o acesso rápido e fácil à informação. O professor que não possui acesso a estes meios deve tentar superar este obstáculo, tanto para o bem dos seus alunos quanto para o seu próprio.

O uso deste instrumento deve ser tão corriqueiro e habitual quanto o uso dos livros didáticos são hoje. Livro é fonte de informação, Internet também o é, só que muito mais rica.

A informação é a moeda do mundo. Isto não foi algo que aconteceu de uma hora para outra. O saber sempre foi importante e valorizado. As perspetivas atuais são de valorização ainda maior. Cada vez mais máquinas estão tomando o lugar do homem nos trabalhos braçais deixando para ele a atividade realmente importante: pensar. Pensar implica em conhecer. Conhecer é a chave que abre as portas do mundo. O educador tem o papel importantíssimo de facilitar o caminho na busca desta chave. Seu valor é inestimável.

Referências

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