Variação Linguística
Written by Adonai Estrela Medrado   
Sunday, 29 November 2009 03:40

Sobre

Este material é adaptação de trabalho presentado em setembro/2009 como requisito para aprovação na disciplina Língua Portuguesa I do Curso de Letras/UNIFACS.  

Reflexões sobre Variação Linguística 

Como hoje no Brasil já existe um ensino e uma gramática da língua portuguesa não é possível atribuir somente à faltas destes a variação lingüística encontrada atualmente. Entretanto, é notório que o ensino ainda não alcança boa parte da população. Aqueles menos privilegiados sócio-economicamente encontram dificuldades no acesso e permanência à educação. Esta desigualdade pode, em parte, ser responsabilizada pela variação linguística que encontramos atualmente, porém outros aspectos como idade, etnia, grupo social e comunidade também contribuem para este fenômeno. Olhando para o Brasil de agora é possível observar a variedade de sotaques que independe de ensino e de gramática. O baiano tem sua forma peculiar, assim como o paulista, o mineiro, o carioca, etc., nenhuma pode ser considerada correta ou errada, ou implica necessariamente em maior ou menor grau de instrução. São apenas formas peculiares de uma região.

Época Colonial

O termo babel segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa  significa “confusão, mistura de línguas” ou ainda em sentido figurado “reunião de diversos elementos; complexidade”. Foi exatamente isto que se encontrou na população indígena à época do descobrimento e foi também isso que os portugueses criaram com o método de “recrutamento” da população escrava.

Havia mais de mil línguas indígenas, não existindo portanto uma unidade linguística entre as tribos e sim uma complexa e rica mistura.

A estratégia política de prevenção a rebeliões era trazer os negros de diversas regiões o que dificultava a comunicação e tornava mais complicada a organização. Os portugueses, sabendo da importância da língua para a interação humana, usavam este conhecimento a favor do tráfico.

O português brasileiro ganhou em riqueza. Pode-se falar em miscigenação das línguas. Cada povo (imigrantes, tribos indígenas ou africanas) incorporava novos elementos e sotaques, modificava e criava em cima da necessidade de comunicação. Assim o português se formou de “encontros”, prova e consequência disto são as várias palavras que temos atualmente de origem indígena (ex.: caboclo, gambá, pipoca ) e africana (ex.: angu, marimbondo, moleque ).

A colonização surgiu como desdobramento da expansão comercial . O Brasil era uma colônia de exploração o que significa que não havia interesse em povoar,  apenas na exploração das suas riquezas . A metrópole utilizava de toda a sua experiência, poder estratégico e superioridade tecnológica para extrair tudo o quanto conseguia. Neste processo, o dominador impunha sua vontade perante o dominado. Assim, Portugal, de forma análoga ao Império Romano, impôs sua cultura e sua língua aos novos territórios conquistados.

Quanto Vale uma Variação Linguística?

“Uma variedade linguística “vale” o que “valem” na sociedade os seus falantes.”

A afirmação acima destaca a relação que os falantes estabelecem entre certo e errado ou culto e não culto dentro da língua. Por exemplo, o valor de “certo” é estabelecido àquela forma do “doutor”, do letrado, daquela variação diastrática (variação de classe social) dominante político ou sócio-economicamente. As demais variações são rotuladas como “erradas”. Assim, o “correto” e o que recebe mais apreciação social é problema e não pobrema, estupro e não estrupo, etc. O preconceito linguístico, que advém desta classificação certo/errado, privilegia um (ou alguns) grupos em detrimentos de outros. A comunidade acaba dando valor a um padrão desejado que acaba sendo imitado ou utilizado em situações de formalidade. Entretanto, é importante compreender que este padrão é definido historicamente variando com o tempo. A relação entre padrão e não padrão pode-se alterar; algo que hoje não é considerado norma “culta” em breve pode vir a ser.

 

Last Updated on Sunday, 29 November 2009 04:02