Reflexões sobre o ensino de uma segunda língua
Written by Adonai Estrela Medrado   
Sunday, 30 October 2011 21:54

Sobre

Este trabalho foi apresentado como respostas às atividades da disciplina Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Inglesa na Universidade Salvador (UNIFACS) entre setembro e outrubro de 2011. A compilação apresentada aqui contém pequenas alterações. A fonte principal do material foram as aulas disponibilizadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da disciplina de autoria da Profa. Andréa Alves. 

Qual o significado do ensino do inglês?

O ensino de uma língua estrangeira é um trabalho junto com o aluno num processo de abertura e conhecimento de um universo linguístico e cultural diferente do seu. No caso específico da língua inglesa, como língua das comunicações internacionais, pelo seu uso na sociedade contemporânea, ao aprendê-la o aluno ganha condições de imergir num universo global de trocas intelectuais, experienciais e culturais.

Do ponto de vista da responsabilidade social, o ensino da língua inglesa para o professor é uma forma de luta no campo ideológico contra as desigualdades, uma vez que o aluno amplia suas possibilidades de acesso a informações significativas para alterar sua condição socioeconômica.

Processo de arquisição da segunda língua

O processo de aprendizagem de uma língua começa com a aquisição da primeira língua. O bebê tenta emitir e receber mensagens a partir de uma série de sons e comportamentos. Com o tempo, ele consegue imitar aquilo que ouve, realizar combinações e, geralmente aos 3 anos, a criança já consegue compreender e expressar uma grande quantidade de palavras. Na escola são internalizadas estruturas mais complexas, o vocabulário é expandido e inicia-se a aprendizagem da função social da língua.

Ao longo da vida, os indivíduos produzem e testam hipóteses linguísticas baseadas nos inputs que recebem. De forma geral, este caminho para aquisição da primeira língua (L1) é mais ou menos previsível e bem conhecido, mas o processo de aquisição da segunda língua (L2) ocorre em idades e condições diferentes o que torna difícil seu estudo. Entretanto, a análise do processo de aquisição da L2 não pode ignorar a primeira língua, a idade ou o contexto do aprendiz.

Diferentes L1 interferem distintamente no aprendizado de uma L2. Além disto, nem todo indivíduo da L1 aprende uma determinada L2 da mesma maneira. Há uma transferência de regras que ocorre de formas diferentes no processo de cada sujeito. Ao contrário do que ocorre na aquisição de L1, no aprendizado do L2 o indivíduo já tem um conhecimento do qual faz uso em processo de comparações e empréstimos.

Estilo de aprendizagem de cada indivíduo

Existem diferenças no estilo de aprendizagem de cada individuo. Os estilos de aprendizagem são os percursos utilizados pelos sujeitos para conquistar determinado saber. A aprendizagem depende da valorização dos percursos individuais escolhidos. Há alunos que aprendem melhor vendo (visuais), outros que são mais auditivos, outros que são mais sensíveis a movimentos, atividade e práticas (sinestésicos), outros mais físicos (inquietos), outros mais solitários e tímidos (intrapessoais), outros mais voltados aos relacionamentos e às interações sociais (interpessoai), outros mais verbais interagindo facilmente através das palavras, outros mais matemáticos e lógicos, outros mais sonoros e musicais.

Influenciam na aquisição da segunda língua tanto os aspectos individuais do aluno quanto o contexto de aprendizagem. A interação entre estes fatores é de natureza complexa, pois questões afetivas estão envolvidas, mas também questões de identidade, de objetivo da aprendizagem, de expectativas de uso e de transformação (significado da aprendizagem).

O professor, como elemento do contexto do aluno, influencia na aprendizagem de acordo com sua experiência e com suas crenças, atitudes e comportamentos político-pedagógicos. Com base nestas questões, pode-se afirmar que o exercício da aprendizagem e as diferenças de estilo de cada sujeito dependem da história de vida de cada indivíduo, do seu momento e do contexto em que está inserido.

Além do contexto, idade, aptidão, motivação, estilo de aprendizado e personalidade influenciam no processo e estilo de aprendizagem. A idade está relacionada à capacidade de concentração, memorização e cognição. A aptidão é a habilidade para o processo de aprendizagem linguística. A motivação está relacionado à capacidade de se iniciar e se manter envolvido no processo de aprendizagem da língua e seus elementos culturais. O estilo de aprendizado e a personalidade dizem respeito a características individuais de cada sujeito como extroversão, timidez etc.

Por outro lado, existem também, os seguintes fatores pessoas que podem influenciar no aprendizado: a dinâmica de grupo, atitude em relação ao professor e ao material do curso e técnicas individuais de aprendizagem. A dinâmica de grupo permite uma comparação do progresso de cada sujeito e podem ter como consequência respostas emotivas e competitivas. A simpatia ou não do aluno pelo material didático e pelo professor influencia sua aprendizagem em graus diferentes. As técnicas individuais de aprendizado dizem respeito à forma de estudar que está diretamente relacionada às respostas que os sujeitos receberam ao longo da vida às suas estratégias de aprendizagem.

Métodos para o ensino da segunda língua

Além do tradicional método de tradução e gramática, existem vários outros métodos para o ensino/aprendizagem da segunda língua.

Método Audiolingual

Este método é baseado em teorias linguísticas e na psicologia comportamental. O objetivo é a utilização da língua alvo de maneira automática através da formação de hábitos. É constante a repetição, a memorização e a imitação. Respostas certas são reforçadas. O professor é responsável pelo modelo da fala e deve funcionar como facilitador do aprendizado.

Os princípios destes método são os seguintes:

  1. material apresentado em forma de diálogo;
  2. estrutura gramatical apresentadas sequencialmente, uma por vez, porém raramente de forma explicação explícita de regras;
  3. repetição utilizada como meio de ensino de determinadas estruturas;
  4. vocabulário ensinado e aprendido de maneira contextualizada;
  5. uso frequente de material visual e auditivo;
  6. destaque para a pronúncia, que é ensinada desde o início;
  7. permite-se pouco uso da língua materna.

Suas principais técnicas são:

  1. conversação em pares;
  2. dramatização de diálogos previamente memorizados;
  3. memorização de frases longas (parte por parte);
  4. prática de estruturas através de jogos de repetição e de pergunta-resposta;
  5. complementação de diálogo;
  6. transformação de frase (ex.: negativa em afirmativa).

Método Comunicativo

Este método dá importância à produção dos alunos oportunizando espaços de comunicação na língua estrangeira, mas sem correção sistemática dos erros. O objetivo é a competência comunicativa com o uso da língua dentro de um contexto social. As formas gramaticais não são valorizadas em si. Busca-se a capacidade do uso da língua dentro de um contexto social, através da escolha adequada das melhores estruturas para a circunstância. O estudante é levado ao contato com situações de uso cotidiano da língua. O professor deve assumir o papel de orientador e facilitado, sendo responsável pelo ecossistema da aprendizagem e vendo o erro como processo natural.

As principais técnicas do método são:

  1. o uso de material autêntico;
  2. jogo de ordenação de textos;
  3. exercícios com perguntas autênticas e respostas pessoais;
  4. uso de figuras associadas a previsão de histórias;
  5. dramatização de cenas.

Método Direto

Os seguidores deste método acreditam que a segunda língua deve ser aprendida como a primeira, ou seja, com base no uso espontâneo, sem tradução e pouca ou nenhuma análise gramatical. As aulas são ministradas através do estudo de situações baseadas no cotidiano. Tanto alunos quanto professores podem iniciar a conversa e os alunos também podem conversar entre si.

Os princípios deste método, para o caso do ensino do inglês, são:

  1. instruções em sala exclusivamente na língua inglesa;
  2. vocabulários e expressões voltados para o dia a dia;
  3. gramática induzida e não explícita;
  4. aspectos da língua introduzidos oralmente;
  5. vocabulário ensinado através de demonstração e associação de ideias e gestos;
  6. é enfatizado a pronúncia correta das palavras.

As técnicas utilizadas são:

  1. leitura em voz alta;
  2. exercício de perguntas e respostas;
  3. práticas de conversação tendo como base situações reais;
  4. ditado de textos;
  5. desenho induzido por ditado do professor ou dos colegas;
  6. composição escrita.

Qual é o melhor método para o ensino de línguas?

Não existe melhor método, mas o mais adequado para um determinado contexto. O contexto envolve elementos sociohistóricos, um momento e as características específicas de alunos e professores. Não há como, de forma descontextualizada, atemporal e a priori, estabelecer o método mais adequado.

Por exemplo, o método da tradução e gramática pode ser adequado para aquele aluno cujo único objetivo é "passar" em uma avaliação que lhe exige a tradução de um texto em língua estrangeira. O método direto ou o audiolingual, por exemplo, neste contexto em que os alunos têm o objetivo claro de tradução, provavelmente seria improdutivo e frustrante para os alunos e para o professor. Talvez, nesta situação, fosse mais adequado o ensino de técnicas de tradução para que os alunos possam traduzir de forma eficiente àquilo que foi lido, mas sem deixar de destacar aspectos culturais que muitas vezes impactam no entendimento e na tradução do texto.

Relação entre ensino de línguas estrangeiras e cultura

A cultura de um povo está imbricada em sua língua, desta foram o ensino de uma língua estrangeira não pode prescindir de conhecimentos culturais os quais são aprendidos por cada membro da sociedade durante seu convívio. É com a aprendizagem da cultura que se consegue viver de forma harmoniosa em uma comunidade.

A importância do componente cultural no ensino de língua inglesa está na sua relação com a compreensão dos textos (escritos ou não) desta língua. A cultura de um povo transparece na sua forma de se relacionar com o mundo e, portanto, na sua língua. Entretanto, no que diz respeito à língua inglesa a cultura toma outra dimensão, pois não podemos nos restringir à cultura norte americana ou a inglesa. É preciso considerar os interesses dos alunos para identificar quais elementos culturais são relevantes naquele momento da aprendizagem.

O trabalho do professor de língua estrangeira com a cultura precisa considerar as necessidades dos alunos, suas experiências de aprendizagem, suas características (idade, nível educacional, interesse), suas atitudes e seus interesses frente à língua que estão aprendendo. Em qualquer caso, não se trata de sobrepor uma cultura a outra, mas de mostrar as diferenças destacando a necessidade de respeito a elas.

Podem-se trabalhar os aspectos culturais através dos livros didáticos, porém, como os mesmos apresentam muitas vezes representações estereotipadas e arriscadas generalizações, é importante fazer uma análise criteriosa do mesmo, identificando, por exemplo, possíveis representações negativas de gêneros e raças. Outra opção interessante, que pode ser usada paralelamente, é chamar atenção e discutir ao aspecto e diferenças culturais quando aparecerem de forma mais explícita nos textos.

Por que incluir uma língua estrangeira no currículo?

Há três fatores que devem ser considerados para a inclusão de uma língua estrangeira no currículo da escola: fatores históricos (papel da língua no momento histórico), fatores relativos às comunidades locais (convivência entre povos de diferentes contextos culturais e linguísticos) e fatores relativos à tradição (papel da língua nas relações culturais entre povos).

O ensino da língua estrangeira na educação formal pode priorizar a leitura da língua escrita, colocando como secundário a comunicação oral, pois é necessário considerar que a maioria dos alunos não sente desejo ou necessidade de se comunicar oralmente em língua estrangeira.

Last Updated on Sunday, 30 October 2011 22:48