Hipertexto e Dialogismo: Um resgate teórico
Written by Adonai Estrela Medrado   
Saturday, 28 June 2008 00:49

Sobre

Este material foi apresentado em dezembro/2007 como requisito para aprovação na disciplina Linguagem e Educação da Faculdade de Educação/UBFA.

Introdução

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007), 71,7% da população brasileira de 10 anos ou mais que utilizou a Internet, o fez com a finalidade de educação e aprendizado. É bem provável, senão certo, que a maioria destes usuários utiliza principalmente os recursos da World Wide Web (WWW).

A WWW, que implementa o conceito de hipertexto imaginado por Ted Nelson e Douglas Engelbart, “é hoje tão popular e ubíqua, que, não raro, no imaginário dos usuários, confunde-se com a própria e balzaquiana Internet”. (SOUZA, 2004). Um hipertexto, conforme descrito por Lévy (1999, p. 56), “é constituído por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, seqüências musicais, etc.) e por links entre esses nós, referências, notas, ponteiros, “botões” indicando a passagem de um nó a outro”.

Pesquisadores do tema, como Pierre Lévy (1999), Andrea Cecilia Ramal (2002), Sérgio Roberto Costa (2005), concordam que o hipertexto transforma e redefine conceitos da escrita. Por exemplo, eles concordam que, em um hipertexto, leitor e autor confundem-se, ou mesmo chegam a inverter papeis.

Ramal (2002) e Costa (2005) baseiam parte dos seus estudos de hipertexto nas contribuições de Mikhail Bakhtin, as quais influenciaram ou anteciparam as principais orientações teóricas dos últimos 30 anos sobre texto e discurso. Na perspectiva Bakhtin, o texto é um objeto significante, produto da criação ideológica ou de uma enunciação, dialógico e único. (BARROS, 2005, p. 25).

A intensão deste trabalho é realizar uma construção capaz de sintetizar os pontos que foram considerados mais relevantes para a compreensão do fenômeno do hipertexto à luz dos estudos de Bakhtin.

Hipertexto e pensamento humano

Os meus escritos, todos eles ficaram por acabar; sempre se interpunham novos pensamentos, extraordinárias, inexpulsáveis associações de ideias cujo termo era o infinito. Não posso evitar o ódio que os meus pensamentos têm a acabar seja o que for; uma coisa simples suscita dez mil pensamentos, e destes dez mil pensamentos brotam dez mil inter-associações, e não tenho força de vontade para os eliminar ou deter, nem para os reunir num só pensamento central em que se percam os pormenores sem importância mas a eles associados. (PESSOA, 1966, apud AREAL, 1996)

A epígrafe acima foi extraída do texto de Areal (1996) onde ele explica e justifica a escolha do formato de hipertexto na produção do MultiPessoa - Labirinto Hipermedia, um protótipo de um programa multimídia sobre a obra de Fernando Pessoa a qual “sempre incompleta vive de uma intertextualidade fundamental, através da criação de personagens literárias cujas vozes poéticas constituem um diálogo permanente” (AREAL, 1996).

A escolha de Areal (1996) pelo hipertexto e a própria visão de Fernando Pessoa sobre sua obra, remete a uma das primeiras concepções do hipertexto. Em 1945, no seu artigo “As we may think”, Vannebar Bush imaginava o Memex como um dispositivo que funcionaria de forma análoga à mente humana. (RAMAL, 2002, p. 86) Acreditando na não linearidade do pensamento humano idealizou um funcionamento por associação (DIAS, 1999, p. 271).

A idéia do hipertexto, com suas raizes no Memex de Bush, libertaria o homem de uma estrutura linear da informação passando para um estrutura associativa, não-linear.

A intertextualidade é um exemplo da não linearidade e, para Ramal (2002, p. 85), os intertextos foram, de certo modo, precursores do hipertexto. Segundo Fiorin (1994), na intertextualidade existe a presença de duas vozes num mesmo segmento textual, um texto é incorporado a outro com o objetivo de reprodução ou transformação. Haveria três processos de intertextualidade: a citação, a alusão e a estilização. No primeiro caso, um texto aparece em outro como foi escrito pelo autor original; no segundo, “reproduzem-se construções sintáticas em que certas figuras são substituídas por outras” (FIORIN, 1994, p. 31); no terceiro existe a reprodução do estilo de outro texto.

Com o tempo, mais e mais mecanismos foram aos poucos sendo incorporados à escritas para aproximá-la a um funcionamento não linear. Dias (1999) em um resgate histórico sobre hipertexto relembra várias elementos classificatórios e de inter-relacionamento lógicos que ao longo do tempo possibilitaram uma interação entre o texto e o leitor completamente diferente. Cita-se por exemplo o sumário, os capítulos, títulos, resumos, esquemas, diagramas, índices, palavras-chave, bibliografias e glossários como elementos que ofereciam “ao leitor a possibilidade de avaliar o conteúdo da obra de forma rápida e acessar partes do livro que mais lhe interessavam, de modo seletivo e não-linear” (DIAS, 1999, p. 270).

Hipertexto e informática

O hipertexto utilizado pelos desenvolvedores das ferramentas computacionais e na WWW vem se inserir na cibercultura como um nova interface de comunicação, resgatando e modificando antigas interfaces da escrita (DIAS, 1999).

O termo hipertexto é utilizado fora do espaço do mundo “virtual” identificando formas de texto que possibilitem uma leitura não linear. Por exemplo, Ramal (2002, p. 86) considera que um índice é uma espécie de hipertexto, de acordo com Pierre Lévy (1999, p. 56) pela definição de hipertexto como “texto em rede” ou de rede de documentação, “uma biblioteca pode ser considerada como um hipertexto. Neste caso, a ligação entre os volumes é mantida pelas remissões, as notas de rodapé, as citações e as bibliografias”.

Com o computador o hipertexto adquire características únicas. Segundo Costa (2005, p. 103), “as ferramentas (o computador, o teclado, os programas de interface), o suporte (a tela) e os dispositivos (meios eletrônicos) oferecem recursos técnicos que nos permitem comunicações e organizações e construções textuais, cuja arquitetura (hiper)textual é sui generis”. Pierre Lévy (1999, p. 56) destaca a grande rapidez com que o computador permite a pesquisa nos sumários, o uso dos instrumentos de orientação e a passagem de um nó a outro.

De certo modo, a experiência que o usuário de um hipertexto tem com o uso do computador tende a ser bem mais eficaz graças inclusive aos sistemas de indexação que cada vez mais aprimoram sua precisão. (SOUZA, 2004)

Dialogismo e concepções de texto

Para Barros (1994, p. 2),

o texto é considerado hoje tanto como objeto de significação, ou seja, como um “tecido” organizado e estruturado, quanto como objeto de comunicação, ou melhor, objeto de uma cultura, cujo sentido depende, em suma, do contexto socioistórico.

A autora também reitera as contribuições de Bakhtin para uma “análise do todo do texto: de sua organização, da interação verbal, do contexto ou do intertexto” (1994, p. 2) e a concepção de dialogismo como “interação verbal que se estabelece entre o enunciador e o enunciatário” (1994, p. 2).

Um hipertexto à luz da teoria bakhtinana, uma vez que foram construídos por sujeitos, carregam uma ideologia, mas, diferente de um texto em mecanismos tradicionais, o leitor ao dialogar com o hipertexto poderá interagir com os nós e construir seu próprio caminho, que seguirá sua própria história e ideologia, criando seu próprio texto.

Assim, para Ramal (2002), a escolha de determinado nó em um hipertexto ao invés de outro pode se fazer pelo contexto de que o leitor faz parte em função da história pessoal, memória e dos conhecimentos prévios.

Entretanto, a de se considerar o apelo por parte do construtor do hipertexto da linguagem como meio de persuasão e de sugestão. “A palavra justa, no momento certo, predispõe à mudança de comportamento” (HJELMSEV, 1975, p. 3).

Dialogismo e autoria no hipertexto

No hipertexto, a interação verbal enunciador/enunciatário determina a produção de um texto. Aquele que acessa um hipertexto pode ver-se atraído por determinado nó e decidir trilhar seu caminho através dele, abandonando a linha original de leitura e assim sucessivamente em uma jornada praticamente sem fim. O leitor passa a ter um papel de construtor.

Para Pierre Lévy (1999),

O navegador participa, portanto, da redação do texto que lê. Tudo se dá como se o autor de um hipertexto constituísse uma matriz de textos potenciais, o papel dos navegantes sendo o de realizar alguns desses textos colocando em jogo, cada qual à sua maneira a combinatória entre os nós. (LÉVY, 1999, p. 57)

Ao navegador, caso deseje ter um papel ainda mais ativos, na construção do que lê, pode, por exemplo, não satisfeitos com os nós oferecidos em um hipertexto, utilizar sistemas de busca e indexação para acessar novos nós nunca antes imaginados pelo construtor do hipertexto. As ideologias, verdades e mentiras a que o leitor será exposto do momento que começa a ler um hipertexto até quando resolve parar são únicas e imprevisíveis.

Dialogismo, hipertexto e educação

Para Bakhtin, a forma lingüística é sempre flexível e variável. Assim, quando a escola desvincula, enunciados e textos dos seus respectivos contextos, oferecendo estudos meramente gramaticais, ou levando os alunos, por variadas formas a se relacionarem com a linguagem como se ela fosse um sistema abstrato de normas, ela ignora a idéia de que não são palavras neutras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, ideologias, resultados de visões de mundo e de maneira de ser e de pensar. (RAMAL, 2002, p.59)

De forma geral, este pensamento de Bakhtin, exposto por Ramal (2002), faz pensar nas responsabilidades e concepções do professor frente ao aluno no mundo do hipertexto. Ao solicitar que o aluno pesquise um determinado tema os resultados trazidos são absolutamente imprevisíveis sendo impossível que o professor consiga antecipar todos os caminhos que serão percorridos. Seria essencial rever a idéia do professor que detém o conhecimento, para um professor arquiteto cognitivo capaz de acompanhar e auxiliar no traçado hipertextual do aluno, trabalhando junto com ele uma visão crítica e de construção e re-construção.

Para Costa (2005, p. 104), o surgimento do hipertexto como novo gênero textual, “pode estar ligada à aparição de novas motivações sociais e circunstâncias de comunicação ou a novos suportes de comunicação”. Qualquer que seja o caso, o professor e o sistema educacional devem preparar-se para a nova realidade.

Ramal (2002, p. 13-15) em seu estudo parte da convicção de que

[...] as mudanças que ocorrem na organização e na produção dos conhecimento desenham a base de um novo estilo de sociedade, na qual a inteligência passa a ser compreendida como o fruto de agenciamentos coletivos que envolvem pessoas e dispositivos tecnológicos. Mudando as estruturas da subjetividade, mudam também as formas de construção do conhecimento e os processos de ensino e de aprendizagem.

Ela acredita que existem três elementos desse conjunto de mudanças na relação com o saber. O primeiro elemento de destaque é a velocidade de circulação e de produção da informação que é bem mais rápida, tornando os saberes, inclusive profissionais, bem mais dinâmicos em um processo de renovação contínua. O segundo elemento diz repeito à relações de trabalho, cidadania e aprendizagem, que tornam saberes estratégicos o domínio das linguagens utilizadas pelo homem, a análise de dados, a compreensão contextos e a capacidade de receptor crítico e ativos dos meios de comunicação. O terceiro elemento é a tecnologia:

[...] a informática transforma o conhecimento em algo não-material, variável, fluido e indefinido, por meio dos suportes digitalizados, trazendo consigo processos provocadores de rupturas: a interatividade, a manipulação de dados, a correlação dos conhecimento entre si por meio de links e nós de rede hipertextuais, a plurivocidade, o apagamento das fronteiras rígidas entre texto-margens e autores-leitores, a relativização da objetividade do conhecimento e da busca de verdades definitivas. Os suportes digitais, as redes, os hipertextos são, a partir de agora, as tecnologias intelectuais que a humanidade passará a utilizar para aprender, gerar informação, ler, interpretar a realidade e transformá-la. (RAMAL, 2002, p. 14)

O professor, o sistema educacional e os profissionais de educação não podem simplesmente ignorar todas estas mudanças. Por outro lado, não basta simplesmente disponibilizar as tecnologias para o aluno acreditando que com isto o problema será automaticamente resolvido. É necessário uma transformação do modelo atual de ensino e dos profissionais em que nele atuam para que o sistema educacional prepare melhor as pessoas para a vida social com base nestas mudanças paradigmais.

Visões e possibilidades

O hipertexto não está para substituir completamente os outros meios de comunicação. Pierre Lévy (1999, p. 56) cita o exemplo de romances e filmes que geralmente são percorridos de forma linear, da primeira à última página, dispensando assim o uso dos hipertextos.

A hipertextualidade vem para aprimorar e auxiliar. Para Dias (1999), a sociedade pode aproveitar o potencial cognitivo, interativo e multimodal dos hipertextos nas áreas pedagógicas, comunicacionais e de divulgação de conhecimento. Existem sistemas que se adaptam conforme o percurso seguido pelo usuário, reforçando ou enfraquecendo links (LÉVY, 1999). De certa forma, este tipo de sistema é inteligente se adequando à realidade sócio-histórica e ideológica do navegador.

Os sistemas de indexação e busca estão desenvolvendo métodos e tecnologias modernas que retornam resultados mais eficazes e personalizados. Tenta-se encontrar soluções capazes de catalogar as diversas modalidades textuais (não só o texto, mas também as imagens, sons, animação, vídeo, etc.). Um exemplo disto é a Web Semântica (SOUZA, 2004).

Considerações finais

O hipertexto, seja ele em meio digital ou não, apresenta vantagens em relação aos meios lineares de comunicação. Sua organização não-linear é mais receptiva ao pensamento humano.

A computação, através dos recursos de velocidade e poder de processamento, traz ao hipertexto novas possibilidades, que quando exploradas podem fazer com que o homem obtenha muito mais informação de qualidade em muito menos tempo.

O leitor ganha um espaço mais ativo, construindo e trilhando um caminho um caminho que pode nunca ter sido imaginado pelo construtor do hipertexto. O próprio leitor poderá, em uma segundo leitura, ir por um caminho completamente diferente tornando cada leitura uma experiência possivelmente única e irrepetível. De certa forma os papeis de autor e leitor se confundem e chegam a se inverter. Agora é o leitor que cria o texto através dos nós que escolhe seguir.

Evidentemente, os hipertextos não estão isentos de contexto sócio-histórico e de ideologias, apresentando inclusive as possibilidades de manipulação da linguagem, capazes de manipular os leitores para traçar no hipertexto um caminho (texto) específico.

O hipertexto não está para substituir, mas para ser acrescentado às formas de comunicação disponíveis, talvez abrindo possibilidades mais polifônicas e subvertendo o monofonia.

Mas ao mesmo tempo em que o hipertexto abre possibilidades pedagógicas ele também existe transformações. O aluno precisa ser preparado para um mundo cada vez mais veloz, tecnológico e requisitante de uma capacidade crítica, intertextual e contextualizada.

Referências

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FIORIN, José Luiz. Polifonia textual e discursiva. In: BARROS, Diana Luz Pessoa de. ______, J. L. Dialogismo, polifonia, intertextualidade: em torno de Bakhtin Mikhail. São Paulo: USP, 1994. p. 29-36.

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Last Updated on Tuesday, 01 December 2009 05:09